a historia de um homem

adormece um homem num quarto escuro
revestido pelas trevas ambíguas das vidas.
ao deitar, empurra com os pés os problemas
e encosta-os ao fundo negro da cama,
como se as agonias acesas
fossem rugas indefesas e perdidas.
com o rosto encostado ao desejo que o chama
ao conforto dos sonhos que acaricia a nudez,
joga com a esperança como um criança
que bebe com as mãos chegadas à inocência
um licor refeito à sua pequenez.
espalhado a preceito nesse mundo imperfeito,
mais torto, menos direito,
deixa fora do leito a responsabilidade,
o seguro, as dividas e o carro por pagar,
o trabalho, o estudo e as horas com a verdade
e o beijo da agressividade
que as grades do dia o deixam a sustentar.
esquece os confrontos burgueses
e destroi a racionalidade de olhos fechados.
suspende-se fora das cicatrizes
e das matrizes que o levam a afogar
a terminologia dos odores apagados.
cai-lhe nos braços uma lotaria de minutos,
onde desenha em si sorrisos de aguarela
e define a óleo o que o leva a respirar.
astutos momentos esses sagrados,
onde o corpo dos sonhos acordados
cai num devaneio que não se quer arrumar.

1 comentário:

Anónimo disse...

lindissimo este poema ;) Gostei mesmo! Há algo nele bastante profundo, mesclado com a realidade de uma rotina diária.
parabéns, gostei mesmo!